Em São Paulo, elevadores e escadas rolantes garantem o título de selva de pedra à maior cidade do país
maior cidade do Brasil, maior cidade do hemisfério sul, capital do estado mais populoso do país e centro da maior região metropolitana brasileira, São Paulo já foi chamada de desvairada por Mário de Andrade, terra da garoa dado seu clima que produzia garoas diárias, e vez ou outra é comparada à cidade estadunidense de Nova York. Em semelhança, as duas cidades possuem uma população que alcança os milhões e são muitos os arranha-céus, aqui mais modestos do que lá, mas ainda assim as cidades são duas selvas de pedras. E em uma selva de torres de concreto, os elevadores e as escadas rolantes são indispensáveis para movimentar os milhões de paulistanos em seu balé frenético.
Fundada em 1554, no dia 25 de janeiro, São Paulo de Piratininga cresceu encravada no topo de colinas margeadas por três rios: Tamanduateí, Anhangabaú e Tietê. Os nomes indígenas nos lembram que a cidade foi por muito tempo significativamente marcada pela presença de populações nativas que passavam pelo processo de aculturação conduzido pelos jesuítas, ou que, à margem da sociedade europeizada, resistia nas proximidades do núcleo urbano.
Até o final do século 19, São Paulo era uma cidade inexpressiva no cenário nacional. Uma cidade triste, sóbria, quando comparada à Salvador ou ao Rio de Janeiro, úmida, onde sempre chovia, onde os rios alagavam (e alagam) as áreas de várzea). Enfim, um reduto um tanto quanto inóspito. Parece até impossível pensar que em pouco mais de 100 anos a cidade se transformaria na metrópole que hoje conhecemos.
Fato é que, na virada do século 19 para o 20, a cidade passou experimentar um processo de crescimento e desenvolvimento vertiginoso, com seu ápice na década de 1950. Esse crescimento está relacionado diretamente ao enriquecimento do estado de São Paulo – o famoso crescimento das plantações de café no interior e das indústrias na capital. E por sua posição próxima ao porto de Santos, a cidade se transformou em um ponto de passagem, por onde os caminhos do comércio e escoamento da produção passavam. É a passagem, o movimento, uma das principais características da cidade. Para garantir o seu ritmo contínuo, São Paulo conta com o maior sistema de metrô e trens urbanos do Brasil, além de uma frota gigantesca de ônibus, táxis e, não esqueçamos, elevadores e escadas rolantes.
De acordo com a Prefeitura de São Paulo, são mais de 60 mil elevadores registrados (o registro é obrigatório, uma vez que os elevadores são considerados como meio de transporte), que transportam mais de 300 mil pessoas em mais de 4 trilhões de viagens anuais). Para as escadas rolantes, os números não são precisos, já que não é necessário o registro, mas um dado ajuda a compreender a dimensão de seu uso: somente o Metrô é responsável pela manutenção de 597 escadas rolantes em 4 linhas do sistema (as linhas 1-azul, 2-verde, 3-vermelha e 15-prata), de acordo com informações da própria companhia. É de se imaginar que o número total de escadas seja muito maior.
Nos idos de 1908, o primeiro elevador paulistano
Foi no começo do século 20 que a cidade passou a contar com seu primeiro elevador. Diferente de Salvador, em São Paulo o equipamento foi instalada para uso privativo, não sendo utilizado como transporte coletivo. De lá para cá, o número aumentou exponencialmente e hoje os elevadores são equipamentos necessários tanto nos espaços privados, quanto em públicos.
Avançando no tempo e alcançando nosso ano de 2021, o desenvolvimento imobiliário da cidade avança por novos caminhos, com projetos assinados por grandes nomes da arquitetura mundial e investimentos bilionários em soluções cada vez mais inovativas para as edificações. Já no uso público, os elevadores instalados em estações do transporte coletivo, como o Metrô e a CPTM (a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) chamam a atenção.
A princípio, quando o sistema subterrâneo de trens começou a ser construído, a instalação de elevadores não era obrigatória. No entanto, as mudanças na legislação sobre acessibilidade tornaram obrigatória a instalação desses equipamentos – e outros – para garantir o acesso de todas as pessoas às estações. Hoje, no caso do Metrô, todas as estações possuem elevadores, além das escadas rolantes.
Deixe a esquerda livre!
Calma, esse não é um manifesto político. Quem anda ou já andou pelas estações de São Paulo, talvez tenha percebido que há duas formas de utilizar as escadas rolantes: aquela em que você se posiciona em um degrau e aguarda a escada fazer seu trabalho; e aquela outra em que você ativamente sobe os degraus da escada enquanto ela também se movimenta. Essas diferentes formas de usar as escadas fez com fossem aplicados adesivos nas escadas com a orientação “deixe a esquerda livre”. Essa medida teve como propósito manter o fluxo de passageiros. Talvez aquele título de desvairada dado por Mário de Andrade realmente faça sentido.
Como os elevadores, as escadas rolantes são utilizadas em todas as estações de metrô e trem, além dos prédios comerciais e shoppings centers, aeroportos, rodoviárias e, inclusive, em uma galeria pública, a Prestes Maia. Foi nela, localizada no centro da cidade, que a primeira escada rolante paulistana foi instalada, já na década de 1950 (e quase 60 anos depois da primeira escada rolante ser instalada nos Estados Unidos, em, vejam só, Nova York).
Nas estações de transporte coletivo, as escadas rolantes chamam a atenção pelos tamanhos e pela quantidade em que são utilizadas. Em algumas estações, geralmente as mais antigas, é comum encontrar escadas que garantem o acesso à estação e às plataformas, escadas curtas, que vencem uma diferença de altura relativamente pequena. Isso tem relação com o método construtivo utilizado em décadas passadas, em que eram escavadas valas por onde as linhas de metrô foram construídas.
As linhas mais recentes, construídas utilizando máquinas tuneladoras, os tatuzões, ficam mais distantes da superfície, alcançando profundidades cada vez maiores (uma necessidade para vencer a infraestrutura já existente). Nesses casos, as estações de metrô contam com numerosas escadas, situação que vez ou outra dá origem a fotos que chamam a atenção pela multidão inundando os equipamentos. Ainda assim, as maiores escadas estão localizadas nas estações Consolação e São Bento, nas linhas 2-verde e 1-azul respectivamente.
Em um mundo sem elevadores e escadas rolantes…
É certo que caso esses equipamentos não tivessem sido desenvolvidos e aperfeiçoados, comportamentos comuns de nossos dias não existiriam, a começar pelo seus usos. Mais do que isso, os elevadores e as escadas rolantes tornam possível que cidades como São Paulo funcionem freneticamente e tornaram possível a verticalização das construções. Quanto mais tecnologia, quanto maior a velocidade de deslocamento e quanto maior a segurança, maiores são as alturas dos edifícios.
Isso porque esses mecanismos asseguram o deslocamento entre diferentes níveis de forma rápida, confortável e segura, ao contrário de subir escadas fixas, por exemplo, que limitam as alturas das edificações. E essa característica faz com que os elevadores e as escadas rolantes sejam fundamentais para o desenvolvimento de cidades cada vez mais inteligentes e sustentáveis com o uso de tecnologias que garantem a redução do gasto energético – as escadas rolantes, por exemplo, podem reduzir suas velocidades quando ficam um certo tempo ser serem usadas.
Enfim, a selva de pedra, a cidade desvairada, é uma cidade em constante mudança, em constante trânsito – sério, a gente fica muito tempo no trânsito – e os elevadores e escadas rolantes fazem parte desse movimento frenético. Lembre-se, então, de dar bom dia para quem utilizar o elevador com você, puxar aquele papo próprio do elevador “clima louco, né?” e sempre, sempre mesmo, deixar a esquerda livre – os paulistanos precisam muito desses espaço para subir as escadas.
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