Drone é o termo utilizado para se referir aos veículos aéreos não tripulados – em inglês, unmanned aerial vehicle (UAV). Basicamente, os drones podem ser pilotados de duas formas: por pilotos remotos ou por programas de pilotagem automática.
Os drones tiveram origem na indústria de defesa militar, que se mantém até hoje a maior parcela do mercado de drones no mundo. Eles ganharam rapidamente espaço no setor militar como potenciais soluções mais baratas, mais seguras e versáteis em alternativa ao uso tradicional de aeronaves.
A Goldman Sachs publicou um relatório em 2016 sinalizando que, ao mesmo tempo em que a indústria militar provavelmente manterá o posto de maior mercado de drones nas próximas décadas, as oportunidades comerciais estão crescendo exponencialmente e devem ganhar cada vez mais espaço no mercado mundial.
De fato, a sociedade está ficando cada vez mais familiarizada com essa tecnologia; avistar drones sobrevoando os ceús das cidades causa cada vez menos estranhamento nas pessoas.
A demanda comercial de drones decolou nos últimos anos ao passo em que governos e diferentes setores de negócios começaram a explorar possibilidades de uso e vantagens dessa tecnologia – e tudo indica que até o momento foi só o começo.
Medições topográficas, monitoramento climático e controle de fronteiras são algumas das funções já bem consolidadas para uso de drones, mas o horizonte de oportunidades vai muito além.
No relatório da Goldman Sachs, o setor da construção deve se tornar o maior mercado do mundo para vendas comerciais de drones nos próximos anos.
Assim como aconteceu com o CAD, o BIM e a fabricação digital, essa nova tecnologia promete gerar grandes transformações na arquitetura e no setor da construção civil, considerando tanto a forma como arquitetos projetam como a forma como edifícios são construídos.
Impacto da tecnologia de drones no setor da arquitetura e construção civil
A evolução da tecnologia sempre carrega a reflexão sobre quais serão os impactos das inovações na prática de cada profissão.
No caso dos drones, a evolução tecnológica protagonizou a miniaturização dos equipamentos dos anos 2000 para cá. Esse processo resultou na expansão imediata do comércio de drones em diversos segmentos comerciais.
As respostas do mercado foram positivas e encorajaram empresas a realizar novos grandes investimentos em desenvolvimento – pode-se dizer que os drones são não mais uma aposta, mas uma das principais tendências do mercado de tecnologia nos próximos anos.
Arquitetos e urbanistas estão habituados a utilizar artifícios tecnológicos para a visualização aérea dos terrenos para projetos de arquitetura bem como para o planejamento urbano regional das cidades. Essa habilidade não é novidade para as implantações.
A inovação promovida pelos drones é oferecer equipamentos em larga-escala, fáceis de encontrar no mercado, com custo acessível, durabilidade e com capacidades e recursos muito mais avançados do que os disponíveis até então.
Antes, fotos aéreas de satélite não tinham alta resolução e os levantamentos topográficos e altimétricos não eram tão precisos. Para fotografar paisagens, era necessário alugar helicópteros e equipamentos que poderiam custar facilmente 3.000,00 reais a hora de voo ou mais – além de deixar uma imensa pegada ecológica.
Hoje, este mesmo investimento pode comprar modelos de drones disponíveis no mercado que são compatíveis com GPS de alta precisão, computadores de bordo, sensores eletrônicos, estabilizadores e programas de piloto automático.
Os modelos atuais ainda não suportam transportar materiais pesados, mas os dispositivos facilmente acopláveis aos drones os transformam em máquinas superpoderosas para captura de imagens em ultra definição.
A evolução dos drones está inaugurando uma nova perspectiva para a arquitetura e a construção civil. As diversas possibilidades de uso da tecnologia introduzem uma dinâmica multiescalar na prática de arquitetos e engenheiros, permitindo analisar e monitorar em tempo real a execução de projetos vistos de cima, bem como avaliar de perto o resultado final de construções concluídas.
Os principais benefícios práticos de drones para arquitetos e engenheiros civis
Há diversas possibilidades para arquitetos e engenheiros inserirem a tecnologia de drones no dia a dia de suas profissões – e os benefícios são múltiplos.
Drones podem ser utilizados como ferramentas inteligentes para coleta de dados, para logística e para a construção propriamente dita. Além de realizar pesquisas e levantamentos de campo de forma mais eficiente e com alta precisão, drones facilitam a reprodução e a repetição de pesquisas, sobrevoos, aferições, medições e avaliações de forma econômica, prática e ágil.
- Aerofotogrametria com georreferenciamento: permite dimensionar e obter dados métricos e altimétricos georreferenciados de um terreno. É possível gerar modelos digitais de terrenos e de construções existentes.
- Gestão do canteiro de obras: O uso de câmeras e sensores térmicos acoplados aos drones permitem realizar a leitura em tempo real das quantidades de materiais no canteiro de obras, como cimento, brita e areia. Além disso, os drones facilitam o monitoramento e controle de atividades em grandes canteiros de obras para megaprojetos.
- Acessibilidade a áreas difíceis ou perigosas: Percorrer quilômetros de distância em terrenos não ocupados ou de difícil acessibilidade torna-se fácil com os drones, além de reduzir drasticamente o custo em comparação com o envio de equipes de pesquisadores.
- Redução de riscos e de custos: Com a opção de empregar drones ao invés de funcionários em determinadas atividades, os riscos de acidentes de trabalho são reduzidos. Além disso, drones podem realizar em um dia trabalhos que levariam semanas e demandariam mobilização de recursos humanos e maquinários pesados.
- Escaneamento digital: Lasers podem ser acoplados aos drones. Esses dispositivos fazem o escaneamento digital para leitura de coordenadas espaciais que serão traduzidas como superfícies, planos e formas geométricas em modelos 3D de edifícios, fachadas, cortes e topografias.
- Publicidade: A versatilidade dos drones para o sobrevoo de paisagens, permite capturar fotos, perspectivas e panorâmicas de forma única para peças de publicidade e propaganda.
Será que as empresas e cidades estão preparadas para essa nova realidade?
Há desafios a serem superados ao passo em que drones se tornam cada vez mais presentes nas cidades. Governos e agências reguladoras têm um papel fundamental nesse aspecto. É necessário que a criação de legislação específica acompanhe o ritmo de crescimento do mercado de drones para garantir proteção e confiança.
Segurança e privacidade são os tabus, as preocupações mais polêmicas, associados aos usos recreativo e comercial de drones. Os riscos mais comuns tendem a ser de um equipamento acidentalmente cair sobre as pessoas, ou de realizar filmagens não autorizadas em propriedades privadas.
Outras questões mais sérias são a invasão de áreas restritas, o sobrevoo em espaço aéreo proibido, bem como a colisão com aviões, helicópteros ou antenas de telecomunicação, além do uso de drones associado a atos terroristas.
No Brasil, a Agência Nacional de Aviação (ANAC) é o órgão que regulamenta a aviação civil e caracteriza os drones em dois tipos: aeromodelos, no caso de recreação e lazer, e aeronaves remotamente pilotadas (RPA), no caso drones com fins experimentais, comerciais ou institucionais.
Segundo regras da ANAC, drones devem ser operados somente em áreas com pelo menos 30 metros de distância do público não envolvido na operação, sendo que cada piloto remoto pode operar apenas 01 equipamento por vez. A licença para operação é emitida mediante o Certificado de Aeronavegabilidade Especial de RPA – CAER, e os equipamentos devem ser registrados na agência.
De forma geral, as regulamentações que vêm sendo observadas ao redor do mundo incluem não poder voar após anoitecer, não sair da linha de visão do operador, não ultrapassar certas altitudes, não sobrevoar distâncias mínimas de outras estruturas ou acima de multidões.
De acordo com a ANAC, havia 820 registros de empresas cadastradas para operar drones com fins comerciais no Brasil em 2017. O número de registros em 2021 supera 3.400 empresas. O crescimento dos registros é mais uma evidência do mercado que os drones vêm conquistando.
No entanto, o uso de drones requer investimento em recursos e treinamento. Muitas das empresas optam por contratar terceirizados devido a falta de capacitação para pilotagem bem como de expertise técnica para operação de softwares e análise de dados.
Pode ser que demore um pouco até drones começarem a erguer pontes e construir edifícios, mas as contribuições da tecnologia para pesquisa e criação de recursos visuais são mais que sólidas – e tudo indica que esse é o futuro para onde caminhamos.
Tendências para o futuro
Assim como ocorreu com o GPS – originado e utilizado exclusivamente no setor militar antes de ser disponibilizado para uso civil – a indústria de drones deve expandir cada vez mais, oferecendo soluções antes inimagináveis especialmente para a construção civil.
As tendências incluem a combinação de drones com tecnologias CAD, BIM e robótica, permitindo a impressão 3D guiada por drones de edifícios em larga escala – uma alternativa em potencial para atender os problemas habitacionais de interesse social em grandes cidades ao redor do mundo.
O avanço tecnológico deve aprimorar ainda mais a performance e a resolução de imagens, permitindo o uso de drones como ferramentas inteligentes de monitoramento do progresso de grandes obras em tempo real.
Conforme os modelos ganham resistência e força, pesquisadores já especulam sobre o uso de drones no transporte de materiais pesados, transformando a logística da construção – bem como na combinação de drones com equipamentos biônicos, criando exoesqueletos para “super-construtores”.
O crescimento vertiginoso da indústria de drones foi arrebatador para o mercado mundial e superou o ritmo do desenvolvimento de legislações, regras e normas técnicas para regulamentar o uso civil e comercial da tecnologia.
O desafio para as agências reguladoras alcançarem o ritmo não é pequeno, especialmente considerando que os equipamentos devem se tornar cada vez mais acessíveis com o avanço tecnológico, dado o cenário promissor para o mercado de drones nos próximos anos.
As preocupações dessa incerteza para segurança pública e privacidade podem ter um peso na evolução do uso de drones, mas com o desenvolvimento de regras claras a demanda comercial será ilimitada e as inovações que estão por vir certamente surpreenderão o mercado novamente.
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