Você sabia que as mulheres estão presentes na arquitetura desde o século XV? Neste texto, vamos explorar a história das mulheres arquitetas e como elas têm transformado a sociedade com suas criações.
O Dia Internacional da Mulher é uma data importante para homenagear, refletir sobre o papel das mulheres na sociedade e celebrar os seus avanços e conquistas.
Não é segredo para ninguém que algumas áreas do conhecimento são vistas como espaços “masculinos”, e que a presença das mulheres nesses lugares ainda causa burburinhos e desconfiança em algumas pessoas. A arquitetura é uma dessas áreas.
Neste artigo, vamos falar sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na arquitetura ao longo da história, bem como destacar o trabalho de arquitetas inovadoras que estão liderando a luta por mais inclusão e diversidade na profissão.
A presença das mulheres na arquitetura ao longo da história
A arquitetura foi estabelecida, pela primeira vez, como uma profissão licenciada em 1857, nos Estados Unidos. Muito antes disso, contudo, ela já era de grande importância para a sociedade; e muito antes disso, também, começou a história das mulheres com a arquitetura.
Talvez a primeira arquiteta de que se tem conhecimento tenha sido Katherine Briçonnet. Katherine, uma mulher da nobreza, viveu na França por volta dos séculos XV e XVI e teve grande influência na construção do Castelo de Chenonceau. O terreno havia sido comprado pelo marido de Katherine, Thomas Bohier.
Quando Thomas partiu para a guerra, foi Katherine que assumiu a supervisão de parte da construção do castelo, entre 1513 e 1521. Foi sob a fiscalização de Katherine que uma escada foi construída. Mas o que há de especial nisso? Bem, tal escada foi construída em linha reta, contrariando o design comum da época, de escadas em espiral.
Disputando a posição de primeira mulher arquitetura da história, há também a inglesa Lady Elizabeth Wilbraham, que foi a arquiteta da Wotton House em Buckinghamshire e de muitos outros edifícios. Ela é conhecida como a primeira arquiteta do Reino Unido.
Wilbraham viveu a maior parte da sua vida no século XVII e era parte da aristocracia inglesa. Alguns historiadores sugerem que ela foi a primeira mulher arquiteta, cujo trabalho pode ter sido atribuído a homens ao longo da história. Essa informação, no entanto, é contestada por historiadores da arquitetura.
Então, como vimos, em 1857 a arquitetura foi reconhecida oficialmente como uma profissão nos Estados Unidos. Demorou até o final do século 19, começando na Finlândia, para certas escolas de arquitetura concederem admissão às mulheres em seus programas.
1980 foi um ponto de virada, contudo. Foi nesse ano que a italiana M. Rosario Piomelli se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de reitora de uma escola de arquitetura nos Estados Unidos, no caso da Escola de Arquitetura de Nova York.
Outros exemplos de mulheres na arquitetura de lá pra cá incluem Marion Mahony Griffin (1871-1961), uma das primeiras arquitetas licenciadas do mundo, Aino Aalto (1894-1949), conhecida como uma das pioneiras do movimento modernista, e Lilly Reich (1885-1947), que contribuiu com diversos projetos na Alemanha durante a primeira metade do século XX.
Como pudemos ver, a história da arquitetura está repleta de mulheres que transformaram o campo para sempre. Vamos conhecer agora três arquitetas de destaque que seguem desbravando a arquitetura nos dias de hoje.
Mulheres arquitetas fazendo a diferença hoje
Toshiko Mori
Arquiteta japonesa radicada nos Estados Unidos. Há quase quatro décadas à frente de seu escritório em Nova York, Mori tem tido a oportunidade de exercer seu interesse pelo design e pelo meio acadêmico, construindo edifícios premiados em diversos lugares, como China, Estados Unidos e Senegal.
Mori se tornou também a primeira professora a receber posse na Harvard Graduate School of Design, em 1995. Além disso, em 2002, ela se tornou a primeira – e até hoje a única – mulher a presidir o Departamento de Arquitetura.
Gabriela Carrillo
A arquiteta mexicana construiu uma carreira exemplar. Apaixonada pela cidade, pelo território e pela diversidade, suas obras, amplamente premiadas, tornaram-se referência na arquitetura contemporânea do México.
Os seus projetos expressam as necessidades do mundo, desenvolvendo um trabalho de valorização dos territórios para proporcionar espaços que dignifiquem os seus habitantes. Seus interesses estão no cotidiano, através da prática flexível e dinâmica que lhe permite manter um equilíbrio entre o trabalho e a vida.
Johanna Meyer-Grohbrügge
De Berlim, Johanna já lecionou em várias instituições, como a Columbia GSAPP, a Northeastern University Boston, a Washington University St. Louis e DIA Dessau. Desde 2021, ela ocupa o cargo de Chefe de Arquitetura e Design Espacial na TU Darmstadt.
Johanna começou sua carreira com alguns projetos ligados às artes, como galerias e feiras de arte, coleções e design de exposições. Para Johanna, a habitação e o trabalho são prioridade nas questões do futuro, já que jamais irão desaparecer, devendo estar mais integradas em nossas vidas.
Além de serem profissionais mudando o mundo através da arquitetura, você sabe o que mais liga essas três mulheres? As três fizeram parte do documentário Women in Architecture. Vamos ver um pouco sobre o documentário.
O documentário – Women in Architecture
O projeto, dirigido por Boris Noir, foi iniciado pela Sky-Frame para falar sobre o papel das mulheres na arquitetura, aumentando a visibilidade dessas profissionais e capacitando-as para alcançar todo o seu potencial.
Sobre a ideia por trás da produção, Boris diz: “Para tornar nosso mundo um lugar melhor. Todos devem ter uma ideia de como a arquitetura funciona e no que ela pode impactar. Vivemos na era em que os humanos estão mudando o planeta; a arquitetura é uma das ferramentas mais importantes”.
O projeto entrou em contato com Toshiko, Gabriela e Johanna. Três arquitetas em três países diferentes, em momentos diferentes de suas vidas. Contudo, com algo especial em comum: são profissionais reconhecidas, com paixão pela educação e pelo trabalho com comunidades, com sensibilidade para as necessidades da sociedade.
Andrea Zürcher, produtora executiva do documentário, afirmou: “Com projetos como Women in Architecture e as vozes que falam através dele para um público mais amplo, podemos chegar a uma convivência mais bonita.”
No documentário, podemos ouvir um pouco sobre como a arquitetura impacta as vidas de Toshiko, Gabriela e Johanna enquanto elas navegam suas vidas profissionais e pessoais. Em suas reflexões, percebemos, também, como a arquitetura é impactada por seus ideais e suas personalidades.
Assista o documentário aqui.
Os desafios que as mulheres enfrentam na arquitetura
Ainda que histórias de dedicação e sucesso como as de Toshiko, Gabriela e Johanna nos mostrem que estamos no caminho certo, as mulheres arquitetas ainda enfrentam muitos desafios, como a desigualdade e o preconceito.
Ainda hoje algumas pessoas insistem em crer que determinados espaços foram feitos somente para os homens. Pensam, inclusive, que as mulheres não têm a mesma capacidade para exercer alguns trabalhos. Que as profissionais que vimos ao longo do texto sirvam de prova do contrário!
Outro ponto importante que merece destaque é o da desigualdade de salários. No Brasil, por exemplo, em um levantamento de 2019, foi constatado que as mulheres recebem somente 77,7% do valor que os homens recebem pelo mesmo trabalho.
Está mais do que na hora de nossa sociedade entender que o trabalho duro e uma visão para o futuro são tudo que profissionais precisam para fazer a diferença, e que as mulheres têm o poder e a força necessários para transformar não só a arquitetura, mas o mundo.
Ao longo do texto, vimos como a participação das mulheres na arquitetura perpassa pontos de muita importância na história da área, como as ideias inovadoras de design de Katherine Briçonnet e o movimentado modernista, liderado, entre outras pessoas, por Aino Aalto.
Vimos, portanto, que as mulheres são pioneiras, dedicadas, fortes, capazes e prontas para revolucionar a arquitetura sempre que necessário.
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