No sul do Brasil, nas margens do Atlântico, uma cidade e sua corrida em direção ao céu
Em nosso giro pelo Brasil, que começou lá em Salvador e desceu até São Paulo, já conhecemos um pouco sobre o primeiro elevador urbano do país, ainda hoje em funcionamento, e percebemos a importância desses equipamentos e das escadas rolantes para o trânsito de pessoas na maior cidade do Brasil. Quando passamos pela capital paulista, deu para entender um pouco a relação entre os elevadores e a verticalização da cidade. Agora, em nossa nova parada, o céu é o limite.
Se pegarmos a BR-116, a Régis Bittencourt, rumo à Curitiba e depois de um “oi” nos jardins curitibanos acessarmos a BR-101, conseguimos chegar em Balneário Camboriú. São mais ou menos oito horas de viagem entre São Paulo e a cidade litorânea que vem ganhando projeção nacional por duas características. A primeira, o número de arranha-céus que realmente arranham o céu, e, a segunda, os efeitos dessas construções em sua praia central.
A cidade de Balneário Camboriú é muito nova quando comparada a São Paulo ou Salvador, nossos pontos de paradas iniciais. A emancipação política do núcleo urbano e sua constituição como município aconteceu lá na década de 1960, e de lá para cá a cidade passou por um vertiginoso processo de crescimento. Literalmente.
Localizada no litoral de Santa Catarina, o balneário começou a chamar a atenção de turistas brasileiros e dos países do Mercosul, que desembarcam nas praias do sul do país, uma vez que são mais próximas de seus países do que as famosíssimas e badaladas praias do Nordestes, ou, mantendo a tradição praieira, do Rio de Janeiro. Não por menos, cidades como Florianópolis e a própria Balneário Camboriú se tornaram lugar propício para o desenvolvimento de grandes empreendimentos imobiliários para turistas.
O próprio crescimento de Balneário se relaciona com a construção de hotéis. De torre em torre, a cidade foi crescendo, se expandindo horizontalmente e, sobretudo, verticalmente. As grandiosas torres abrigam, sobretudo, unidades luxuosíssimas, que oferecem conforto e vistas de tirar o fôlego da cidade e da praia. O surto dos gigantes fez com que a cidade passasse a abrigar cinco dos maiores prédios do Brasil.
São torres altíssimas, com seus 60, 70 ou 80 andares, com revestimentos espelhados e muita, muita mesmo, tecnologia para garantir o luxuoso conforto de seus moradores e turistas que passam por elas. A maior delas, com 81 andares e mais de 200 metros de altitude é, na verdade, uma dupla: são duas torres do mesmo tamanho que foram o Yachthouse, condomínio localizado na barra sul da praia central de Balneário.
E se não fossem os elevadores?
Imagina subir 81 andares usando escadas. Jamais! E esse é o grande trunfo dos elevadores. Quanto melhor forem as tecnologias, mais alto podem ser os prédios, e maior a verticalização das cidades.
Mundo afora parece existir uma corrida silenciosa pelo prédio mais alto do mundo. Já figuraram na lista edifícios nos Estados Unidos, França, Malásia e Emirados Árabes, e também do Brasil. Hoje, o mais alto de todos é o Burj Khalifa, com pouco mais de 800 metros de altitude. Você leu certo. Quase 1 km de torre rumo ao céu.
Por aqui, ou melhor, em Balneário Camboriú, as alturas são mais modestas, ainda assim chama a atenção dos turistas o panorama da cidade demarcado pelas torres, como disse, recobertas de espelhos. E chama a atenção, também, as tecnologias que são empregadas em suas construções.
Vista da praia central a partir da Barra Sul. Fonte: http://www.panoramadoturismo.com.br/destaques/balneario-camboriu-conquista-eventos-para-2019
O uso de alta tecnologia associada a desenhos únicos, projetos diferenciados que reconhecem demandas específicas, garantem a percepção de exclusividade compartilhada por quem frequenta as torres de Balneário. Por lá, o desenvolvimento imobiliário reforça a necessidade de serem utilizadas as melhores soluções em construção civil e arquitetura em benefício da valorização dos imóveis.
Nem tudo que reluz é ouro
Ainda que a cidade ganhe cada vez mais projeção nacional e internacional devido à sua paisagem construída, recebendo o título de Dubai Brasileira, os efeitos das construções gigantes começaram a ser percebidos no principal atrativo turístico da cidade: a praia.
A praia central, ponto mais badalado da cidade, é formada por uma estreita faixa de areia que, a depender do movimento das marés, acaba sumindo. Além desse comportamento natural da natureza, o elevado gabarito dos prédios passou a interferir na incidência de sol na faixa de areia.
Já pensou uma cidade litorânea famosa por sua praia perder o principal atrativo? Foi buscando uma solução para esse problema que a prefeitura, junto com um consórcio de empresários da região, começou outra grande obra na cidade, o alargamento da faixa de areia da praia central. A proposta é mais do que dobrar a largura da praia e garantir mais espaço e, quem sabe, mais sol nos banhistas. Outro problema, no entanto, parece mais difícil de ser resolvido.
Contando com uma população na casa dos 300 mil, a cidade mais do que triplica sua população durante a alta temporada, quando seus arranha-céus são tomados pelos turistas vindos de todo o Brasil e de outros países vizinhos. Nesses momentos, são famosas as cenas de carros importados desfilando pelas ruas. Ou melhor, carros importados andando lentamente pelas ruas congestionadas.
Para esse problema, a prefeitura tem buscado organizar o sistema de transporte coletivo. Em seu site oficial, por exemplo, é possível encontrar o masterplan que orientará o desenvolvimento de Balneário Camboriú. Ali, além das intervenções destinadas a fortalecer a vocação turística, propõe-se a estruturação de um grande sistema de transporte baseado em ônibus urbanos.
Com uma topografia predominantemente plana, Balneário Camboriú é bem diferente de Salvador e de São Paulo. Lá, além da população menor, não há a necessidade de se vencer grandes diferenças de altitude – fora a ligação entre a barra sul e a praia de Laranjeiras realizada por um teleférico. Ou seja, o uso de elevadores ou escadas rolantes acaba ficando limitado às áreas privadas de condomínios residenciais ou comerciais e dos hotéis.
Mas já vimos que esses equipamentos podem ser utilizados no transporte coletivo, facilitando o acesso dos passageiros às estações, e esse talvez seja o caminho para a cidade manter seu crescimento, e, claro, de forma sustentável. Os sistemas de ônibus são boas soluções para cidades que já estão com seu zoneamento consolidado – como em áreas centrais – uma vez que os veículos podem circular em ruas já existentes (não confundir com os BRTs, os ônibus que obrigatoriamente circulam em vias segregadas e dos quais falaremos em nossa próxima parada, o Rio de Janeiro).
Em Balneário Camboriú, então, parece ser a solução adequada. Resta ver se a estrutura desenvolvida fará com que o título de Dubai Brasileira seja mantido. Vamos acompanhando.
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