Basta uma breve pesquisa online para reconhecer que as exigências impostas aos estudantes de Arquitetura e Urbanismo são grandes. Demanda-se muita dedicação e muita disponibilidade de tempo para realizar os projetos, que podem consumir horas de sono, forçando aquelas viradas de noite quando chega o final do semestre. É fato: a formação do profissional arquiteto-urbanista durante a graduação é um processo longo e cansativo, sendo possível receber o diploma em cursos de 4 ou 6 anos de duração.

O contexto da pandemia de Covid-19 mudou muito o processo de formação, com a realização de parte das atividades no formato à distância. Extrapolando os cursos de formação, as mudanças avançaram para dentro dos escritórios de arquitetura, transformando as dinâmicas de trabalho com o estabelecimento de novas configurações e criação de tendências de trabalho. Os resultados são positivos para empreendedores e seus colaboradores.

Nesse sentido, o home office foi uma avalanche incontestável. Com ele novas possibilidades ganharam mais espaço, como a gestão de equipes remotas terceirizadas, a flexibilização de horários e a parceria entre escritórios para desenvolver um mesmo projeto. Outro termo que ganhou fama foi o coworking: um espaço compartilhado por empresas ou freelancers, onde as despesas e as áreas comuns são divididas.

Mas nem tudo está relacionado à pandemia e suas transformações. Antes da Covid-19 impor as adaptações necessárias, os softwares de gestão de projetos e times circulavam pelos escritórios. A pandemia, então, deu forças ao processo de ampliação de seus usos, uma vez que muitos dos programas e plataformas oferecem ferramentas que facilitam o dia a dia do trabalho para o gestor e os demais colaboradores.

Ainda assim, mesmo com todas as mudanças que ocorreram nos últimos anos dentro do campo de atuação do arquiteto-urbanista, o ato do desenho continua sendo a expressão final na busca de soluções para a construção do espaço físico com a responsabilidade de sintetizar de forma harmônica os interesses do cliente e da comunidade; as propriedades dos materiais e técnicas utilizados; os custos envolvidos e o orçamento disponível; a legislação construtiva e urbanística; o direito à moradia digna e ao acesso democrático à cidade.

Se em meio à pandemia as dúvidas e angústias sobre o ofício surgiram em sua cabeça, confira 5 dicas válidas tanto para estudantes, quanto arquitetos-urbanistas formados ou gestores:

1. Abandone as borrachas e a hesitação ao desenhar

O desenho à mão é essencial na prática da profissão, mas é necessário quebrar imediatamente o paradigma do “desenhar bem” ou “saber desenhar”. Assim como a caligrafia está para a escrita, o croqui está para a Arquitetura como expressão de conceitos por meio de formas geométricas que comunicam soluções para organização do espaço habitado.

Cada arquiteto deve encontrar sua própria forma fluida e confortável para desenhar como extensão do pensamento, entendendo o desenho como processo mais do que como resultado.

2. Suje os sapatos sempre que puder

O arquiteto urbanista deve se sentir tão confortável no canteiro de obras quanto na prancheta. Estágios e trabalhos em obras de construção civil tendem a ser mais abundantes para engenheiros civis do que para arquitetos, mas a experiência construtiva é extremamente importante na formação e no desenvolvimento contínuo do profissional.

O canteiro de obras é uma eterna e infinita sala de aula em constante transformação; inserir-se nesse universo pode ser o diferencial na construção do olhar técnico e do perfil do profissional.

3. Transforme em hábito a busca por referências e a leitura de periódicos

A inspiração é uma qualidade, um estado mental e de espírito, que necessita de permanente e constante exercício.

A observação e a admiração de soluções realizadas por outros profissionais têm o potencial de gerar provocações positivas intensas no âmbito intelectual, cognitivo e criativo do arquiteto urbanista.

4. Vivencie a cidade

Do ponto de vista da forma, as cidades são o conjunto de obras que coexistem no espaço e no tempo, gerando sinergias ora harmônicas e ora conflitantes, mas sempre interessantes e reflexivas. Ao mesmo tempo, do ponto de vista sistêmico, as cidades constituem dinâmicas sociais, culturais, ambientais e econômicas de natureza viva e complexa, em incessante movimento e transformação.

A experiência urbana é sempre única, insubstituível e irreproduzível em laboratório ou simuladores. Deve ser uma prática consciente e diária ao arquiteto urbanista.

5. Consuma diferentes formas de arte

É impossível, e seria um erro, dissociar Arquitetura e Urbanismo, de História e de Cultura. Historiografia, biografia, poesia e poema, pintura, escultura, jardinagem e paisagismo, teatro e cinema e, inclusive, música, são campos artísticos intimamente relacionados à Arquitetura e ao Urbanismo na forma de expressão artística e crítica social.

A Arquitetura e o Urbanismo não se fazem com Arquitetura e Urbanismo somente. Experimentar diversas formas de arte é um modo de alimentar fontes múltiplas e mútuas de inspiração.

Os principais riscos para arquitetos-urbanistas na gestão do seu próprio negócio

É verdade que muitos estudantes ingressam nas faculdades de Arquitetura e Urbanismo carregando o medo da matemática avançada. E muito provavelmente os cursos de cálculo são grande parte da dor de cabeça que a graduação causa. No entanto, a afinidade com números não é requisito básico para a conclusão da graduação e também não é condição necessária para que, uma vez formado, o arquiteto-urbanista alcance o sucesso com a gestão de seu negócio.

Muito tem se falado nos últimos anos sobre empreendedorismo. Cada vez mais esse termo tem se tornado presente em cursos de formação de áreas técnicas ou das chamadas ciências aplicadas, campo em que a Arquitetura e o Urbanismo se encontram. Para o arquiteto-urbanista, a capacidade de empreender reflete na criação de ateliês individuais, ou estúdios com dois ou três arquitetos associados, e também escritórios de maior porte.

Todavia, outro fato também comum de ser observado é o despreparo de arquitetos e urbanistas para administração e gestão empresarial, e aqui mora uma contradição. Ainda que a ideia de empreender tenha se tornado mais recorrente entre graduandos de diversas áreas, os currículos dos cursos de formação básica (as escolas) e formação superior (as faculdades e universidades), não incorporaram de forma adequada as propostas de formação empreendedora.

Para um arquiteto-urbanista que gerencia um escritório, alguns desafios que se colocam no cotidiano estão relacionados à gestão de processos e atualização de tecnologias. Se você percebe que sua formação nesse aspecto ainda precisa de bases mais sólidas, essas orientações podem te auxiliar:

Prospecção de clientes e renda variável

Atuar de forma autônoma e gerir sua própria empresa inclui uma volatilidade de mercado que deve ser considerada. A captação e entrada de novos clientes e novos projetos não é uma certeza garantida. Períodos entre projetos podem comprometer o fluxo de caixa e apertar as finanças com os custos fixos. Não deixe de trabalhar networking – a rede de contatos formada por pessoas conhecidas, fornecedores, clientes, familiares – para encontrar novas oportunidades e gerencie bem suas despesas, sempre com um olho nos projetos ainda em andamento e nas propostas enviadas para clientes em potencial.

Tratativas com clientes e mudanças de escopos contratuais

Além de garantir uma boa comunicação, é importante ter clareza sobre escopos de trabalho, cronograma, prazos, produtos que serão entregues e todos os detalhes envolvidos, seja em serviços de projeto ou de consultoria, evitando riscos para mudanças que podem acarretar custos excedentes e prejudicar a lucratividade, ou até mesmo brechas que exponham riscos jurídicos.

Construtores contratados e trabalho terceirizado

Atuar em parceria com prestadores de serviços terceirizados e construtores contratados traz riscos adicionais que devem ser levados em conta, pois o arquiteto urbanista é legalmente responsável pela relação com o cliente, respondendo por atrasos ou falhas de terceiros envolvidos no projeto. Assim sendo, para todos os subcontratados deve se checar atestados de capacidade técnica, licenças profissionais, histórico de trabalhos realizados e, se possível, indicações e recomendações.

Gerir pessoas não é o mesmo que gerir uma empresa

Trabalhar e monitorar pessoas ao mesmo tempo pode gerar confusão. Pessoas precisam de atenção e orientação constante. Novas ferramentas para gestão de times facilitam esse processo. Mesmo assim, se você trabalha com pessoas isoladas ou diversas equipes, uma má gestão pode impactar outras áreas da empresa. Se você baseia seu lucro em horas faturáveis (tempo gasto em projetos em andamento) como muitos escritórios fazem, é imprescindível acompanhar o trabalho de perto para garantir a conformidade das horas de trabalho postadas e o tempo gasto em cada projeto, o que faz com que seus ganhos variem.

Imprevistos de obra e o papel do arquiteto

Por mais que se possa contar com projetos rigorosamente desenhados, modelagens 3D realistas e detalhes de materiais devidamente especificados, imprevistos existem. A presença do arquiteto urbanista na obra é indispensável para solucionar problemas da melhor forma possível. Gastos ou tempo de obra podem variar, e isso deve ser comunicado com clareza ao cliente. A maioria dos desafios envolve comunicação, colaboração e planejamento. Implementar mudanças que trabalhem esse ponto é um bom começo.

4 novas tendências na gestão de escritórios de arquitetura

Começar um escritório de arquitetura com estabilidade financeira, um espaço físico adequado e uma equipe CLT à disposição oito horas por dia é uma realidade de poucos, já que envolve grandes investimentos e a incerteza quanto ao retorno financeiro satisfatório.

Com as atuais configurações de trabalho que estão propiciando novas oportunidades, você não precisa seguir uma fórmula rígida para alcançar o sucesso.

1. Sociedades entre escritórios e colaboração

Principalmente para quem começa sem uma base sólida de investimentos e clientes em potencial, parcerias são boas formas de se posicionar no mercado, permitindo visibilidade e geração de fluxo para o caixa da empresa o. Alie-se a outros escritórios em crescimento para um trabalho conjunto em uma mesma área, trocando experiências. Outra possibilidade é unir as especializações de cada um e desenvolver um trabalho final ainda mais completo.

Essa também é uma boa dica para pequenos escritórios que buscam notoriedade em grandes projetos, aliando-se a empresas mais experientes.

2. Equipes remotas

Nem sempre é fácil encontrar na sua cidade o perfil de profissional que seu escritório precisa. O trabalho remoto de equipes parceiras, freelancers ou contratados simplifica essa busca. A grande tendência do home office acelerou a normalização do trabalho remoto. Negocie o modo de contratação, a jornada de trabalho – que agora pode ser muito mais flexível – e deixe claro seus interesses profissionais.

3. Coworking

O coworking, conceito que já apareceu anteriormente aqui, é uma ótima solução para quem busca economia com as despesas fixas no final do mês, como aluguel, energia, água etc. Dividir um mesmo ambiente de trabalho com freelancers, profissionais de outras áreas ou até mesmo um outro escritório de arquitetura é uma oportunidade de networking, descontração nas pausas do trabalho e oportunidades para parcerias.

4. Tecnologia

À medida em que transformamos nossas relações de trabalho, a tecnologia também muda. Várias soluções digitais apresentam facilidades para gestão de escritório, pessoas e projetos. Procure pelo software que melhor atenda às necessidades do seu negócio, com foco nos aspectos que você pode otimizar. Hoje, é possível encontrar programas e plataformas gratuitas que se adequam às suas demandas.

3 passos para começar o próprio escritório de arquitetura

Certo. Você já está formado, superou as demandas da graduação, as exigências dos estágios, aprendeu a lidar com os softwares de projeto e de gestão, adaptou-se às novas exigências de um mundo que vive uma pandemia, e agora está preparado para empreender – ou já empreende, mas precisa reencontrar o caminho rumo ao sucesso. Confira então os três passos iniciais:

1. Trabalhe sua marca

Sua empresa precisa de uma marca forte. Invista em branding e na consultoria de profissionais especializados. É importante ter um bom plano de marketing consistente que envolva redes sociais e divulgação em materiais off-line. Projete sua marca para novas oportunidades.

2. Atenção ao legal e financeiro

Depois de estabelecer sua empresa é importante ficar atento aos aspectos legais do trabalho e da empresa. Registre seu escritório junto às autoridades fiscais e mantenha suas taxas em dia. Se preparar para abrir um negócio pode envolver a busca por financiamentos. Tenha em mente que esse tipo de solução requer muito planejamento. Tenha uma previsão das suas finanças e busque linhas de crédito apenas quando tiver segurança sobre o retorno dessa ajuda e o compromisso firmado.

3. Desenvolva um plano estratégico

Planejamento sempre será uma palavra-chave. Considere todos os aspectos do seu negócio e as suas estratégias de marketing, prospecção, crescimento etc. Desenvolver um plano de negócios é complicado e detalhado. Caso você vá fundo nessa dica, procure o apoio de profissionais ou instituições que fomentam o empreendedorismo, como o Sebrae, que possui um software de plano de negócios facilitado e gratuito, disponível a todos.

Regras imprescindíveis para otimizar a produção e aumentar a lucratividade de escritórios de arquitetura

Arquitetos urbanistas que optam por empreender sua própria empresa devem entender que as habilidades de gerenciamento de negócios e projetos tornam-se tão importantes quanto – ou mais que – as habilidades criativas e de design.

A equação é um pouco simples: talento, aptidão e criatividade não terão uso se a empresa não for produtiva e lucrativa.

Nesse sentido, essas próximas regras são imprescindíveis para otimizar a produção da equipe (mesmo que você seja sua própria equipe!), aumentar a lucratividade da empresa e reduzir o estresse de maneira geral.

  1. Alinhe a comunicação e o registro de informações: todas as tomadas de decisão, isto é, negociações, combinados e alinhamentos, devem ser registrados de forma clara, objetiva, transparente e rastreável;
  2. Ampare-se legalmente com contratos formais: atue mediante contrato assinado para prestação de serviços, contendo todas as informações importantes, e obrigações legais das partes;
  3. Tenha controle do financeiro: precifique custos fixos e variáveis; siga uma tabela de honorários; e defina o valor/hora para projetos e serviços de consultoria de forma rígida, pensada e devidamente acompanhada;
  4. Colecione bons softwares: utilize sistemas online para gestão de projetos em nuvem, dê preferência para as vantagens de softwares BIM e invista em plataformas utilitárias, as quais permitem o gerenciamento de negócios, pessoas, projetos, eventos etc., de forma simultânea e com o devido acompanhamento. Automatize processos.
  5. Faça seu negócio presente: direcione esforços para que sua marca seja vista. Participe de eventos interessantes para o seu público, de projetos impactantes e necessários que tragam reconhecimento (mesmo que não remunerados); esteja estrategicamente próximo ao público, construindo a permanência da marca na mente das pessoas; e esteja pessoalmente presente, construindo networking e conhecendo novas personalidades. Negócios precisam de personalidade.
  6. Marketing traz resultados reais: reserve um pouco de tempo para estratégias de marketing. Pense em quais canais o seu público busca por informações ou até mesmo oportunidades profissionais e faça parte deles. Produza conteúdos importantes e que ajudem pessoas com o mesmo perfil do seu cliente e acompanhe a “jornada de compra” de clientes em potencial. Marketing vai além da promoção. Busque por orientação profissional e veja seus resultados crescerem.

É impossível listar tudo o que você pode fazer para potencializar a produção e lucratividade do seu escritório de arquitetura. Mas aqui você entrou em contato com diversos insights que vão ajudar seu empreendimento a crescer de forma consistente e sem imprevistos.

Se você faz parte de um escritório ou empreende em arquitetura e urbanismo, já notou ou aplicou algumas dessas estratégias que permitiram bons resultados de crescimento?

Divida suas experiências conosco e, quem sabe, acabe encontrando novos parceiros de negócios nos comentários!