Inovações recentes em biotecnologia podem estar mudando gradativamente a forma como produzimos materiais de construção e entendemos a sustentabilidade na arquitetura.
Em 2021, por exemplo, os ambientes construídos e as operações de construção geravam quase 50% das emissões globais anuais de dióxido de carbono (CO2).
Enquanto as questões ambientais tornam-se ainda mais críticas, a Indústria de Engenharia, Arquitetura e Construção (EAC) pode ajudar a conter as mudanças climáticas.
Materiais construtivos vivos de bioengenharia que podem crescer, gerar energia e regenerar suas próprias rachaduras por si só são um novo passo em direção aos objetivos globais de Net Zero até 2050.
Descubra o que são os Living Building Materials (LBMs) e entenda como eles podem substituir os atuais materiais de construção em busca de um novo conceito em arquitetura verde.
Living Building Materials: o que são os materiais de construção vivos?
Os materiais de construção vivos contêm microrganismos, propriedades biológicas e funcionam como os materiais tradicionais de construção.
O uso comercial dos LBMs na construção civil ainda é distante, mas pesquisas que envolvem a aplicação de materiais vivos ao ambiente construído têm trazido respostas inteligentes à algumas questões atuais:
- A redução das pegadas de carbono;
- O carbono incorporado em materiais construtivos;
- A otimização inteligente do uso de recursos;
- A criação de construções realmente inovadoras;
- O sequestro de carbono.
Crescimento orgânico: alternativa livre de CO2 para produção de materiais de construção
O Living Materials Laboratory da Universidade do Colorado em Boulder vem estudando um novo material de construção vivo totalmente reciclável que ajuda a sequestrar o CO2 presente na atmosfera.
A equipe responsável fabricou um cimento biológico usando uma cianobactéria (um microrganismo parecido com algas que utiliza dióxido de carbono e luz solar para crescer).
A partir do crescimento exponencial desse microrganismo já foram produzidos blocos de construção tão resistentes quanto às opções manufaturadas do mercado.
Em 2014, por exemplo, foi construída a primeira grande estrutura a partir de outro material vivo que pode ser cultivado: o micélio.
Os materiais de construção baseados neste fungo possuem propriedades significativas de isolamento térmico, retardam chamas e não emitem substâncias tóxicas.
Pelo seu grande potencial de cultivo in-loco, o micélio é objeto de estudo da Nasa como opção viável para a arquitetura espacial.
Materiais auto-regenerativos podem mitigar a demanda incessante por concreto no mundo
A crescente demanda por concreto (responsável por grande parte da emissão de CO2) precisa de soluções urgentes.
Uma resposta inteligente seria o concreto auto-reparador à base de uma enzima que transforma o CO2 presente na atmosfera em cristais de carbonato de cálcio.
Desenvolvido no Instituto Politécnico de Worcester, o concreto :
- Reconstrói suas próprias rachaduras milimétricas;
- Previne danos posteriores ao material;
- Diminui o consumo de recursos.
Como as microalgas melhoram a qualidade do ar e apoiam o bem-estar das pessoas em ambientes construídos
Na Universidade de Norte Carolina em Charlotte nasceu o primeiro sistema de fachada adaptável com microalgas.
Este sistema é capaz de melhorar a qualidade do ar em espaços internos habitados e ainda produz energia renovável a partir de uma tecnologia integrada que utiliza luz solar para cultivar diferentes microorganismos.
Uma janela biocrômica introduz o ar dentro do sistema de fachadas. Depois, o oxigênio produzido pelas algas adentra o sistema de climatização do edifício.
As microalgas carregadas de carbono são substituídas regularmente e transformadas em biocombustível.
No mundo, pesquisas estão investigando os materiais vivos e suas novas possibilidades de uso sustentável, mas ainda há muito o que ser descoberto.
Questões como a segurança e a biocontaminação ainda precisam ser estudadas antes de aplicarmos, de fato, a biotecnologia em construções residenciais.
Arquiteto, como você enxerga a viabilidade da biotecnologia nas construções brasileiras? Essa é uma realidade possível? Vamos conversar nos comentários!
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